Olá, pessoal!
Estou aqui, mais uma vez,
trazendo uma obra de drama. Desta vez é um livro de Jamie Ford, “Um Hotel na
Esquina do Tempo”. A edição que li é de 2010, da Editora Nova Fronteira, 366
páginas, com tradução de Regina Lyra.
![]() |
Um Hotel na Esquina do Tempo, de Jamie Ford. |
Num contexto de guerra, Jamie
Ford conseguiu traçar uma história que envolvesse questões linguísticas, além
de bullying e questões familiares. A história se intercala, passando-se ora em
1942, ora em 1986 – com uns poucos capítulos entre esses dois anos. Durante o
ano de 1942 – época da Segunda Guerra Sino-Japonesa – vê-se a história pelo
ponto de vista de quando o protagonista, Henry Lee, tinha apenas doze anos, e
mal compreendia as ações de seu pai. Henry e seus pais moravam nos Estados
Unidos, sendo que, devido ao contexto político-social em questão, o pai de
Henry o proibira de se comunicar em chinês, sua língua materna; enquanto que
seus pais não compreendiam inglês, ou seja, Henry não poderia mais conversar
com eles. O que é um ponto forte no livro, pois é a linguagem que permite que
nos expressemos, que nos ajuda a formar quem somos, e a interagir com os outros.
E essa atitude do pai de Henry acaba o isolando na própria casa. Não bastando
isso, o menino fora enviado a uma escola de “brancos”, onde sofria bullying por
ser chinês – e frequentemente era confundido com japoneses, embora usasse um
button que dizia “sou chinês”, algo que o pai também o obriga a usar. Já quando
a história se passa em 1986, mais ou menos quarenta anos depois, vê-se Henry
viúvo, com um filho na faculdade.
Dá para ver que as experiências
familiares de sua adolescência refletiram na sua vida adulta. Contudo, no
decorrer da leitura, vendo pelo que ele havia passado, vi no Henry adolescente
alguém que tinha atitudes interessantes que, curiosamente, pareceram não
aflorar no Henry adulto. No começo faz sentido, mas, ao final do livro, quando
já se tem a história toda, parece que o Henry adulto não soube aprender com as
próprias experiências. Ou talvez seja exatamente tudo o que aconteceu com ele
que o fez ser daquela maneira. Afinal, situações difíceis nem sempre nos ajudam
a melhor encarar as situações diárias, às vezes criando uma espécie de resistência
nas pessoas.
“O desastre é iminente, o que importa é como se administra a queda” (p. 49).
O livro começa, na verdade, com
um capítulo de 1986, com Henry adulto, após a morte de sua esposa. Ao se
deparar com o hotel Panamá, o qual está em novas mãos, num processo de reforma,
Henry acredita que um dos objetos encontrados no porão é de sua amiga de
infância Keiko. Durantes os anos de guerra, o porão do hotel fora usado por
famílias japonesas para guardarem seus pertences e então, após quarenta anos,
os objetos foram reencontrados, trazendo à tona o que ficou esquecido no
passado. O hotel Panamá, nesse caso, funciona como um marco do passado com o
futuro, daí o título “na esquina do tempo”.
“[...] objetos empoeirados, intocados durante mais de quarenta anos. Guardados para dias melhores que jamais viriam” (p. 15).
Com alguns capítulos aparece
Keiko, uma menina japonesa que vai à mesma escola de Henry e que, com o tempo,
acaba se tornando sua amiga. Considerando o que Henry passava, em casa e na
escola, sem um local onde ele realmente sentisse que pertencesse, ele encontra
em Keiko uma confidente, uma amizade que passava as barreiras sociais.
Um ponto interessante, embora não
seja inovador, é a questão familiar. Enquanto que na família de Henry havia
essa não comunicação, o pai sempre por dentro das questões políticas e sendo
totalmente contrário aos japoneses, na família de Keiko havia comunicação, um
companheirismo e aceitação que viria a ser outro mundo a Henry.
“Não concordamos com as decisões, mas demonstramos a nossa lealdade com a obediência” (p. 295).
Enfim, é uma história bem
interessante. Em minha opinião, as melhores partes do livro foram as do passado,
do Henry na adolescência. Os capítulos referentes ao futuro, ou talvez seja
melhor dizer presente, foram importantes para a obra, trouxeram bastantes
questões e resoluções pertinentes. Contudo, comparada à outra, parece que ficou
apenas como uma conclusão da história. Ademais, quanto à narrativa, de início
achei muito estranha, estou acostumada a narrativas que sejam escritas com
maior presença de tempo verbal no passado, e logo de cara aparece muito
“presente”. Mas fora isso, achei a narrativa um pouco fraca, objetiva demais,
embora depois de alguns capítulos dê para se acostumar com o estilo.
Gostei bastante do livro, e é uma
leitura que eu recomendo a quem goste de histórias de épocas de guerra e/ou
drama. E aí? Se interessaram?
Ótima resenha, Paula!
ResponderExcluirMe interessei por esse livro quando você me falou sobre o fato de Henry não poder falar o idioma dos pais nem dentro de casa, deve ser algo muito triste. O que a guerra não faz com a vida das pessoas, não é? Uma questão a ser pensada.
Mais uma vez parabéns pela resenha.
Beijinhos, Hel.
http://leiturasegatices.blogspot.com.br/
Obrigada! =)
ExcluirSim, deve ser bem trágico. Mas achei muito interessante esse ponto.
Concordo, dá para pensar bastante.
Espero que goste da leitura caso leia o livro. =)