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Essa imagem diz boa parte da minha reação com o livro. (XD) |
Olá, pessoal!
Vocês sabiam
que a função primordial da capa era, inicialmente, proteger o miolo do livro?
Sendo o miolo a história e seus “adereços”, claro. Foi principalmente após a
Revolução Industrial que a capa passou a ter uma função diferente, começando a
ganhar cores, imagens e informações de uma forma muito mais prática. Também não
é necessário ir muito longe para ver o quanto as capas de livros evoluíram nos
últimos anos. Basta comparar as edições atuais com edições das duas últimas
décadas. A partir disso, e de toda a questão comercial, a capa passou a ser um
ponto de informação e – porque não? – marketing.
Não fugindo disso, convém destacar o papel da capa antes, durante e após os
momentos de leitura da obra; é a “janela”, a porta de entrada da obra. Todo
momento de leitura terá, mesmo que brevemente, a visão desse painel. Às vezes a capa nos engana. Às
vezes, eu evito um livro justamente pela capa; quero muito ler “A laranja
mecânica”, por exemplo, mas aquela capa da edição – mais barata – com a
separação silábica horrenda me agonia demais, de modo que só lerei quanto tiver
outra edição em mãos. Então, já pensaram que, sim, a capa importa?
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Capa da obra em inglês. Fonte: Skoob. |
Porém, não me refiro só à imagem ou aos atores. Meu problema com a capa do livro é outro também, que ficou maior ao reparar em dois detalhes: a capa original e os escritos na contracapa. Quanto à imagem (da edição brasileira), basta pensar que ela retrata, no máximo, 5% do livro; então, por que uma imagem que representa apenas 5% de uma obra tão grande – 448 páginas muito bem preenchidas – e com tanta cena ou interpretação diferente além da explorada na capa, um momento romântico? Às vezes, pensando assim, eu prefiro as capas mais abstratas – já olharam as capas dos livros do Murakami? As da Alfaguara, digo. Quanto aos escritos...
Não consigo
digerir essas informações. Para que não fique prolongado demais, observem
apenas a parte “o amor que não vê obstáculos”. Acho que essa é uma frase de
efeito muito boa para romances cheios de açúcar e aventura, histórias meio
Romeu e Julieta. Para “A teoria de tudo”, no entanto, é uma frase que não
fecha. Jane pode ser corajosa, esperta, dedicada e tudo o mais, mas em nenhum
momento ela deixou de ver os obstáculos. Sim, ela lutou para passar por todos
eles, superou boa parte deles, mas
isso era por vê-los, por saber que precisava seguir em frente e ajudar o
Stephen da melhor forma possível. Ela se dedicou a isso. Acontece que essa é
uma história real, com as tragédias da vida, os problemas da vida em sociedade
do final do século passado e afins; não é uma história de “amor cego”. O amor é
sim o que move a vida da Jane, mas não um “amor que não vê obstáculos”, é mais
afetuoso e realístico que isso, mais forte e delicado; não deixando de dizer,
claro, que a partir de dado momento não é mais o amor por Stephen que os move,
e sim o amor pela família.
“É um modo de
dizer, não é literalmente que não vê os obstáculos”, podem me dizer isso. E eu
direi: Pois eu não gostei dessa frase para esse livro. Não é a perspectiva que
tirei da história; preferia que fosse algo envolvendo a palavra “superação”
(que é uma palavra interessante, não acham? Uma grande (super) ação, e o ato de
superar algo). A meu ver parece tanto marketing
desnecessário e um tanto equivocado do livro que pode decepcionar
a leitura. Além disso, só restam duas pequenas informações quanto à edição: os
erros de revisão, pois observei algumas palavras grafadas erradas e muitas
vírgulas erradas ou mesmo faltando – que me agoniam muito durante a leitura; e
o título. Pelo que eu entendi, essa é a segunda versão do livro de memórias da
Jane Hawking, a primeira sendo intitulada de Music to Move the Stars (sério, que título fofo! Seguindo o estilo
da obra, e no meu parco entendimento, seria algo como “Música para enternecer [ou
mover mesmo] as estrelas”), e a
segunda Travelling to infinity: my life
with Stephen (esse tem muito a ver com o livro, mesmo, até a forma em que
está escrito “minha vida com Stephen”, reparem nas ênfases que eu
dei), que foi, por algum motivo, não digo que se chama filme, traduzido como “A teoria de tudo”. E, mesmo após ler as 448
páginas da obra, ainda não consigo entender o porquê desse título. Para o
filme, até posso compreender, é uma visão que parece equilibrar Stephen e Jane,
embora focando bem mais nele e no romance. Já a obra, ao que me parece, não
possui o objetivo de retratar a vida do
Stephen – que é um físico que estuda o universo –, é a vida da Jane
com o Stephen. O que ela viveu com
ele. A visão dela da vida deles. Deu para entender?
“Eu me consolei com a certeza de que nenhuma quantidade de reconhecimento acadêmico poderia ter igualado a realização criativa que eu derivava de minha família.” (p. 192).
Antes de terminar a leitura, havia planejado refletir, na resenha, sobre questões referentes à biografia ou aos livros de memórias e sobre resenhar esse tipo de obra; mas, considerando a extensão do meu comentário acima quanto à edição, me aterei apenas à história agora e deixo que reflitam sobre essas outras questões.
Há tantos
fatos no livro, pois, afinal, relata grande parte da vida de Jane, que tentarei
resumir. Jane era uma moça tímida – possuía autoconfiança, mas era insegura
frente aos outros –, aventureira e que se dedicava à arte, literatura e
questões linguísticas. Sendo que, não surpreendente, sua tese de doutorado foi
sobre Literatura Medieval Espanhola. Aliás, o próprio fato de tê-la terminado
foi uma grande conquista, tendo em vista que levou treze anos para conclui-la,
por motivos bem expostos no livro, que me fez pensar que, no fim, terminar a
tese era mais uma prova para ela mesma do que um trabalho para ganhar um
diploma e, possivelmente, algum trabalho na área acadêmica. Ainda jovem, Jane
conheceu Stephen Hawking, um rapaz superinteligente, divertido e um tanto
rebelde. Nessa mesma época, Stephen é diagnosticado com esclerose lateral
amiotrófica (ELA), uma doença que aos poucos passaria a restringir seus
movimentos e complicar sua saúde, tendo uma expectativa de apenas mais dois
anos de vida. Apesar disso, Jane, sabendo que a vida não seria fácil, decide
seguir com a firme convicção de estar ao lado de Stephen.
A obra,
então, nos apresenta um pouco de Jane antes de conhecê-lo, e tratará de
comentar os vinte e cinco anos de casados, e algumas poucas páginas após isso.
Boa parte das dificuldades foi retratada por Jane. Particularmente, até
passadas boas duas centenas de páginas, ainda não entendia porque expor tanto
de suas dificuldades; qual o propósito de mostrar uma vida tão “sofrida”?
Claro, ela demonstra os lados bons também. Mas Jane nos deixa claro que
conviver com alguém com necessidades especiais não é um mar de rosas, como
dizem. O que ela decidiu contar, não apenas porque são grande parte de suas
memórias, mas porque, segundo ela, isso faz justiça às outras pessoas que
também passam por isso. Antes de Jane começar a expor essas dificuldades do dia
a dia, muitas pessoas achavam que sua vida era tão tranquila e feliz quanto a
mídia demonstrava – isso porque muito antes da Jane escrever seu livro de
memórias Stephen já era mundialmente famoso e havia muita atenção da mídia
sobre eles. O que gerava aquela frase tão batida: “se ela consegue, por que
você não?”. Algo que, imagino, quase todo mundo já deve ter ouvido em algum
momento.
“Se o futuro tinha adquirido uma aura reconfortante de certeza, a chave para isso residia na gestão do presente. Viver cada dia como ele se apresentava, em vez de projetar uma miragem fantasiosa para o distante futuro, estava se tornando um modo de vida.” (p. 118).
Em meio a
tudo por que passou, acredito não ser um equívoco dizer que Jane é uma pessoa
de muito conteúdo. Tem um conhecimento admirável de arte e literatura; e fez
doutorado nisso. Não é algo que se possa dizer que é pouca coisa. Contudo, quem
ler a obra entenderá que todo esse lado literário e encantador, esse lado
subjetivo e pessoal, o que fazia dela um indivíduo único, em determinados
momentos foi posto de lado como apenas um utensílio. Para que fique claro, num momento
específico da vida de Jane, ela é criticada por não ter feito uma
especialização para cuidar de Stephen. Isso é, por não ter qualificação de
enfermagem para cuidar do até então seu marido.
“Então eu alcancei o que me propus a alcançar – dedicar-me a Stephen, dando-lhe a chance de realizar sua genialidade. Contudo, no processo, eu estava começando a perder minha identidade.” (p. 219).
Não é uma
história, como eu disse, tão linda e emocionante sobre amor, sem obstáculos;
não consigo aceitar essa ideia com a história de uma pessoa que em boa parte de
sua vida precisa perder seu próprio espaço, é criticada pelo que é, por não se
tornar o que não quer ser. Jane foi corajosa ao optar e seguir fielmente por
tantos anos ao lado de Stephen. Muitos não chegariam à metade do caminho.
Contudo, nesse caminho ela perdeu seu espaço, sua individualidade. E, ao tentar manter o que tinha de sua
individualidade, acaba sendo tratada com maldade, como se não colocasse o
Stephen em primeiro lugar. E, como ela aponta em dado momento, estaria ela
errada por apenas querer ser amada pelo que ela era de fato?
“Havia, ao que parecia, um elemento na vida dessas pessoas que faltava na nossa e que eu me vi invejando. Não era derrotismo, mas paz interior.” (p. 279).
Ademais, apesar
dos muitos pontos que o livro traz – e tem espaço para isso nas 448 páginas
muito bem preenchidas (eu já disse isso, né? Mas acho que não comentei que o livro é bem levinho, mesmo!) – não posso deixar de mencionar a
música, que está presente no decorrer de todo o livro. Sejam as que Stephen
ouve, incluindo Wagner, seja a música como elemento de fuga e deleite; seja,
inclusive, a música que envolveu Jane, principalmente depois de participar de
um coral a convite de um conhecido – se não me engano, uma amiga. É a música
que vai trazer a Jane um espaço que ela dispõe a si mesma, treinando a própria
voz, até mesmo cantando em corais diversas vezes. E é também por isso que eu
achei o título Music to Move the Stars tão
fofo, pelo papel da música num todo.
Por fim, e
não menos importante, a narrativa. Como já disse, Jane tem muito conteúdo, e
conhecimentos bem amplos de arte/literatura, o que é exposto em sua escrita;
seja na menção de uma obra ou comparação com algum autor. Nisso sua escrita é
interessante, e até mesmo pode ser aproveitada durante a leitura. Porém, embora
tenha seus pontos positivos de ser bem escrito (tentemos esquecer os erros de
revisão), a narrativa é cansativa, diria até exaustiva, com detalhes que
poderiam muitas vezes ser suprimidos. A leitura, pelo menos para mim, foi bem
arrastada até por volta da terceira centena de páginas. Reafirmo, a escrita é boa, com passagens/trechos
muito interessantes, mas é informativa demais às vezes, o que chega a ser chato
e cansativo de ler. Em outras palavras, não flui.
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Infelizmente minha modelo não quis olhar para a câmera, e nem para o livro. Mas é uma reação plausível. |
Ainda teria
muito a se comentar sobre todos os obstáculos ou dificuldades que aparecem no
livro, ou mesmo sobre as partes boas, e tão distanciadas de minha realidade, mas
deixarei que conheçam todos esses pormenores por meio da leitura da obra.
Apesar da dúvida entre recomendá-la ou não. Claro que essa é só a minha visão
da obra, e que alguém poderá ler e recomendar esta obra como um livro fantástico,
e de certa forma até é; se não for levar em consideração os pontos negativos que
eu apontei e eu espero ter deixado bem claro. Não quero desapontá-los, vale a
pena, mas é exaustivo.
Oi, Paula,
ResponderExcluirAdorei a sua resenha. Acho sua crítica sobre as capas de livros muito válida, pois penso que é um desrespeito com a obra, já que o livro perde sua importância, tornando-o um meio de "vender" o filme, o que não é o objetivo do livro, na minha opinião.
Quanto à história, parece-me que Jane mostra uma realidade que as pessoas dificilmente entendem, pois tendem a julgar ao invés de entender que lidar com pessoas com deficiência não é algo fácil e tem seus obstáculos. É algo interessante, todavia, é uma pena que a narrativa seja cansativa.
Beijos,
Julya.
Oi, Julya! ^^
ExcluirFico contente que achasses boa~ *-*
Concordo totalmente; são duas coisas diferentes, e o objetivo de um livro, imagino, não é ou nunca deveria ser servir de "propaganda" - por falta de uma palavra melhor no momento - para os filmes. Tanto por serem coisas diferentes e utilizarem suportes diferentes, o audiovisual e o livro, quanto por terem perspectivas diferentes. O filme jamais abarcará a visão total do livro; por mais próximo que seja.
Por outro lado, não digo que o clássico 'deu origem ao filme' seja ruim; a forma como fazem isso é que é desagradável.
Me parece bem isso, é o que, ao final do livro, consigo tirar do relato da Jane. Por não estarem nessa realidade, é muito fácil julgar e criticar, por não ter ideia ou noção dos obstáculos; ou mesmo do cansaço a que a pessoa é submetida.
Pois é, infelizmente a narrativa é bem cansativa. =\
Obrigada pelo comentário. ^^