Olá, Leitores.
Foto: arquivo pessoal.
Faz um tempo que estou
sumido, fiquei em uma ressaca literária horrenda por esses tempos e, para me
curar, entrei de cabeça nessa história surreal de “Bella Mafia”. Um suspense de
tirar o fôlego, envolvendo assassinos de aluguel, políticos corruptos, tráfico
de drogas, a máfia. Um ambiente que poderíamos facilmente associar aos Estados
Unidos ou à Europa, mas cujas ações se passam em nosso país, no Brasil.
Esse livro foi recebido de
uma parceria com a editora Luva, nova no mercado, mas que vem fazendo um
excelente trabalho. A edição é muito bem estruturada, com folhas de papel pólen
amareladas (existe algo mais próximo do amor do que livros com folha de papel
pólen com uma boa gramatura?), fontes e espaçamentos em tamanho ideal e
ilustrações de fim de capítulo muito bonitas. No começo do livro eles inclusive
tomaram o cuidado de colocar um organograma com a hierarquia da família na
máfia.
A sinopse do livro
funciona bem ao nos entregar o panorama geral do enredo:
Sócio
majoritário da maior mineradora do Rio de Janeiro, Salvador Lavezzo também é a
cabeça por trás de um sofisticado esquema de narcotráfico no eixo Brasil-Suíça;
contudo, vê sua fortuna ser ameaçada após a apreensão de dez toneladas de pasta
base de cocaína no Mato Grosso. Investigado pela Polícia Federal e jurado de
morte por seus superiores, Lavezzo terá 24 horas para virar o jogo a seu favor.
A beleza desta obra vem da organização da guerra. No sentido óbvio e explícito, por tratar-se de uma organização criminosa; hierarquizada, regulada por normas rígidas, disciplinares e voltada para o enriquecimento ilegal, mas também no sentido de tudo funcionar como um relógio; as mortes, as ameaças, as palavras, nada está fora do contexto; tudo é necessário lá onde acontece e lá onde aparece. Este livro é uma máquina de guerra, pontual como a engrenagem do fuzil, bem lubrificado como o tanque e delicado como a pólvora.
A beleza desta obra vem da organização da guerra. No sentido óbvio e explícito, por tratar-se de uma organização criminosa; hierarquizada, regulada por normas rígidas, disciplinares e voltada para o enriquecimento ilegal, mas também no sentido de tudo funcionar como um relógio; as mortes, as ameaças, as palavras, nada está fora do contexto; tudo é necessário lá onde acontece e lá onde aparece. Este livro é uma máquina de guerra, pontual como a engrenagem do fuzil, bem lubrificado como o tanque e delicado como a pólvora.
Essa introdução serviu
apenas para aguçar minha curiosidade, mas ela não abarca tudo o que a história
passa. É muito bom acompanhar não só a vida de Lavezzo, mas a de todas as
pessoas a sua volta, que ele manipula – ou tenta manipular – para atingir seus
objetivos, e as consequências que ser amigo ou parente de alguém tão poderoso
ou perigoso pode acarretar.
De começo, não somos apresentados
a esse protagonista, Lavezzo, mas sim a Tupinambá, um assassino de aluguel que está
cumprindo um serviço. Não sabemos muito que serviço é esse e quem é o mandante,
só podemos ver suas ações e divagações. Durante o cumprimento do dever,
Tupinambá vai atrás de pistas que o levam a sua vítima, Guzmán Aguirre, que morre por falar demais. Somos apresentados às
médicas Patricia e Andressa, que estão saindo do plantão e planejando ir a uma festa.
Somos apresentados a Ribeiro, que está amarrado e sendo torturado por um
sádico, que aparenta apenas cumprir ordens. Lavezzo aparece de relance, sendo
conduzido por seu motorista e admirador Roni Mota. Conseguimos enxergar a
organização AMIGOS, alta cúpula da máfia que está planejando uma reunião na casa de Riccardo Trevis para falar sobre o erro que
Lavezzo cometeu e decidir a punição adequada.
O começo
do livro é assim, meio confuso. Parecem histórias meio aleatórias, jogadas, mas
no decorrer da leitura vamos percebendo que essas histórias, na verdade, são um
quebra-cabeça a ser montado em torno de Lavezzo, em que aos poucos vamos
entendendo a extensão de suas falhas para com a organização, e a maneira como
ele prevê e reage aos acontecimentos é a grande questão do livro. Lavezzo é
manipulador, cruel, mas também é encantador e inteligente. Ele é cínico e
entende da guerra que está lutando. Ele conhece políticos, policiais, juízes, e
controla muitos deles. Ele sabe que numa guerra como essa o poder vem dos tiros
de pistolas, mas o real poder vem do dinheiro, e isso ele tem de sobra.
Vitto tem uma escrita
crua, que me lembrou muito daqueles romances noir sobre a máfia italiana, me peguei diversas vezes esperando
discussões sobre venda de bebida ilegal e personagens fumando charutos, ou um
investigador de sobretudo marrom adentrar o recinto. Foi muito bom ver como ele
trabalhou essa atmosfera, e colocá-la em outra realidade, no Brasil moderno. E
ele não poupa o leitor. Ele se propõe a falar da sujeira da máfia, da crueldade
das pessoas que estão nessa organização. Logo no começo do livro somos
apresentados a personagens que não sabemos direito como se encaixam na
história, e nos afeiçoamos a eles só para depois de cinco páginas os vermos morrendo.
Ele não tem dó de apertar o gatilho, de colocar dedo na ferida, de fazer com
que pessoas boas paguem pelos erros de pessoas ruins.
O livro conta com muitas
notas de rodapé explicando termos técnicos usados pelo autor, algumas vezes até
um pouco desnecessárias como “STF = Supremo Tribunal Federal”; “caveiras =
membros do bope”, mas outras bem elucidativas, como a que explica o que seria a
Operação Condor. Talvez dependa da vivência de cada pessoa, mas se eu fosse o
editor talvez eu optasse por reduzir algumas delas. Essa é uma questão
controversa e interessante, já que existe quem defenda o uso de notas, há quem
abomine. Há muito o que se discutir a respeito, mas nesse caso em questão achei
que elas foram usadas em demasia. Não encontrei erros de revisão durante a
leitura, achei um trabalho muito bem feito e me interessei em conhecer outras
obras do autor, para descobrir se esse tom noir
do livro é uma marca registrada dele ou se foi apenas um recurso estilístico para
dar mais realidade à aura de máfia que ele se propôs a criar.
No fim, considerei a
leitura satisfatória e agradável, a edição muito bonita e o estilo bem
interessante. Bella Mafia exige um pouco de dedicação e paciência, mas no final
vale a pena.
Gostei do termo ressaca literária, acho que vou adotar também.rsrs
ResponderExcluirNão conhecia o autor, gostei muito da forma como conduziu a resenha.
Parabéns!
Simplesmente Ciana
Obrigado Ciana
Excluirhahahhahaha
eu peguei esse termo de alguém do skoob, eu acho, e me define MUITO quando saio de uma leitura incrivel (ou, as vezes, muito ruim) e não consigo ler mais nada por um tempo porque nada me atrai ou me prende :/